De acordo com relatos, Lira, que é um dos principais cardeais do centrão, ficou bastante irritado com a resolução do diretório nacional do PT que qualificou o centrão como força conservadora e fisiológica que deforma a agenda política.
Ao final, entretanto, ele foi demovido da ideia por líderes de partidos da base governista, em especial Antonio Brito (PSD), Isnaldo Leitão (MDB-AL) e Felipe Carreras (PSB-PE).
O argumento usado, segundo participantes da reunião, foi o de que ele se “apequenaria” ao responder a um documento de um partido político, já que ocupa uma cadeira que, além de ser a principal da Câmara, é a segunda na linha sucessória da Presidência da República.
Além disso, o raciocínio apresentado a Lira foi o de que o eleitor dificilmente sabe o que é o centrão e os partidos que o compõem. Uma carta pública poderia representar um tiro pela culatra, o de associar mais precisamente as legendas ao termo, que tem carga pejorativa.
Outro argumento foi o de que a resolução do PT não foi consensual dentro do partido de Lula.
Lula, Lira e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, almoçaram nesta quarta-feira (13), no Palácio do Planalto.
O centrão, atualmente liderado por Lira, é um agrupamento de partidos de centro e de direita que, em sua formulação mais recente, foi arregimentado pelo ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (RJ). O grupo envolve hoje PP, Republicanos e PL, além de parlamentares formalmente filiados a outros partidos.
O diretório nacional do PT finalizou na segunda-feira (11) a redação de uma resolução partidária cujo texto-base havia sido aprovado na sexta (8).
O texto afirma que “as forças conservadoras e fisiológicas do chamado centrão, fortalecido pela absurda norma do orçamento impositivo num regime presidencialista, exercem influência desmedida sobre o Legislativo e o Executivo, atrasando, constrangendo e até tentando deformar a agenda política vitoriosa na eleição presidencial”.
A reunião virtual, entretanto, foi marcada por um debate sobre a permanência ou não no texto das críticas ao centrão.
O líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu (PR), propôs uma emenda justamente para suprimir as queixas contra o centrão, sob o argumento de que a menção prejudicava a agenda no Congresso.
O líder petista tinha o apoio dos deputados Washington Quaquá (RJ), Carlos Zarattini (SP), Benedita da Silva (RJ), Juliana Cardoso (SP) e José Guimarães (CE), líder do governo na Câmara.
A presidente do partido, Gleisi Hoffmann, porém, foi contra alegando que o teor do texto-base já era de conhecimento público desde sexta, por causa de vazamento à imprensa, e que seu impacto já estava precificado.
A presidente do PT disse ainda que não seria por causa de um documento de avaliação política do partido que seriam geradas dificuldades no Congresso junto ao centrão.
O texto acabou sendo mantido sob o argumento de que não havia mais prazo para emendas. A discussão interna durou cerca de duas horas.
Segundo os relatos, Gleisi afirmou ainda que o governo deveria rever cargos e ministérios concedidos ao centrão caso o grupo político use um documento interno do PT como pretexto para impor dificuldades no Congresso.
Desde que o documento petista veio à tona, na semana passada, Lira já havia manifestado a petistas sua contrariedade.
Além do documento, Gleisi disse durante a conferência eleitoral do partido que, se Lula perder popularidade, o PT será engolido pelo Congresso.
“Se cair a popularidade do presidente, vocês não tenham dúvida do que o Congresso vai fazer. Fizeram com a Dilma. Se baixar a popularidade do presidente, esse Congresso engole a gente”, disse.
O Datafolha mostrou nos últimos dias que, na reta final de seu primeiro ano de mandato, o Lula manteve sua avaliação estável. O petista fecha 2023 com 38% de aprovação dos brasileiros, enquanto 30% consideram seu trabalho regular, e o mesmo número, ruim ou péssimo.
O CENTRÃO, DA CONSTITUINTE AOS DIAS ATUAIS
- Roberto Cardoso Alves (1927-1996), do PMDB-SP, que usou a oração de São Francisco de Assis, “é dando que se recebe”, para explicar a relação dos parlamentares com o governo Sarney
- Roberto Jefferson (PTB), delator e condenado no escândalo do mensalão
- Eduardo Cunha (MDB-RJ), um dos principais condutores do impeachment de Dilma Rousseff, acabou sendo afastado do cargo e cassado
- Arthur Lira (PP-AL) o atual principal líder do centrão
Em setembro, PP e Republicanos, do centrão, acertam o ingresso na base lulista, assumindo os ministérios do Esporte e de Portos e Aeroportos. Lira ganhou também o comando da Caixa. Apesar disso, fatias relevantes desses dois partidos continuam na oposição.