A iniciativa de alguns deputados de darem partida na Assembleia Legislativa da Bahia à Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que garante a reeleição da mesa diretora fez máscaras caírem na Casa, lançando incentivos para que se demarque, de forma clara, a partir de agora, como será o jogo entre as forças governistas e o PT, partido do governador Jerônimo Rodrigues, 11 meses após o início da gestão. O maior beneficiário da medida é, naturalmente, o presidente Adolfo Menezes (PSD), que não precisou se mexer para que os colegas decidissem anunciar, nos bastidores, que criariam as condições para que possa se recandidatar a um terceiro mandato.
Adolfo não se tornou uma referência sólida no Poder apenas porque demonstrou saber administrar com absoluta competência os interesses de 62 colegas cujos desejos são tão díspares quanto os dos eleitores baianos e, ainda por cima, se sentem como tal e têm todo o direito de serem tratados como iguais. Por ser firme, democrático e reconhecidamente correto em suas relações, conferiu plena estabilidade ao governo na Casa sem reprimir a atuação da oposição. Para completar, construiu uma interlocução confiável o suficiente com a Justiça e o Ministério Público que elevaram a um outro patamar o relacionamento entre os três Poderes no Estado.
Não espanta, portanto, que existam vários atores, entre os quais se destaca a grande maioria dos seus colegas, mas que também se espalham pelo Executivo e o Judiciário, plenamente convencidos de que mantê-lo na presidência da Assembleia, sob a linha institucional, traz ganhos para todos, ainda que o direito de o atual presidente concorrer dependa de um aval das Cortes superiores. Ou seja, mesmo que a PEC seja aprovada, como se espera, e com um número considerável de votos, a decisão da Assembleia será mais uma demonstração de reconhecimento ao valor do seu presidente do que a garantia de que ele poderá disputar e, ao final, se reeleger.
A compreensão deveria estar pacificada não fosse o comportamento mesquinho de setores do PT que só aprofundam a ideia negativa que se tem entre aliados e no próprio Parlamento baiano de que o partido não perde a mania de querer tudo para si e nada para os outros. Aliás, faça-se justiça, de setores do PT não, mas do ilustre líder do governo na Casa, Rosemberg Pinto, cuja antiga obsessão de se eleger presidente só não é mais chata do que engraçada. Exatamente porque ele consegue ser, nitidamente, em todos os sentidos, o oposto do colega que deseja suceder, por mais que empreenda um esforço sobre-humano para demonstrar o contrário.
A cena que protagonizou anteontem em plenário com o deputado Niltinho (PP), um dos que tomou a si a iniciativa de buscar assinaturas entre os colegas para viabilizar a PEC, é ilustrativa. Ao ver que o colega se movimentava em favor de Adolfo, despudoradamente, à vista de todos, como um verdugo da Idade Média, Rosemberg partiu para cima dele com fúria, exigindo que recuasse, sob a ameaça de passar a tratá-lo, a partir daquele momento, ‘como oposição’. Sem se abalar, Niltinho prosseguiu na coleta. Mas a truculência repercutiu. Se conhece história, Rosemberg deve saber que, dentre os políticos, parlamentares são, normalmente, os mais avessos à tirania.